Redes de Acesso
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Curso: | Instalação de Equipamentos de Rede |
Livro: | Redes de Acesso |
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Data: | sábado, 23 Nov 2024, 20:38 |
1. Introdução
As redes de acesso interligam os usuários com a rede mundial. Sua função principal é prover o acesso dos mesmos a informações de dados, voz e vídeo através de serviços prestados por operadoras (fonte: Tutorial Redes Óticas). Quer dizer, uma rede de acesso é a parte de uma rede de telecomunicações que conecta os assinantes ao seu provedor de serviços imediato (fonte: wikipedia).
Uma rede de acesso e sua relação com o núcleo de uma rede de Telecomunicações (fonte)
Um provedor de acesso fornece um serviço de dados para seus clientes. Os links de acesso dos clientes têm características diferentes daqueles usados na rede local interna do provedor:
- A quantidade de pontos de acesso é muito maior do que na rede local interna
- Taxas de bits devem poder ser limitadas tanto para upstream quanto downstream
- As distâncias entre equipamentos do provedor e os clientes são maiores, podendo chegar a alguns quilômetros
- Existem diferentes tecnologias para implantar os links de acesso (EPON, GPON, xDSL, MetroEthernet, IEEE 802.11 PTMP, LTE, ...), ao contrário da rede local interna, onde tipicamente se usa somente Ethernet para rede cabeada e WiFi para rede sem-fio
- Os custos para implantação e operação desses links são significativos, devido às distâncias e tecnologias envolvidas
Este video da Huawei, apesar de fazer um certo marketing, apresenta alguns princípios para redes de acesso. Ele enfatiza redes de fibra ótica, pois é a aposta da empresa e a tecnologia que mais vem crescendo no segmento. O original do video foi obtido no Youtube (mas lá não está legendado em português).
Os primeiros provedores de acesso, nos primórdios da Internet (meados dos anos 90 até início dos anos 2000), usavam acesso discado. Para a realidade da época era uma escolha racional: a rede telefônica fixa atendia a maioria dos lares, e era possível transferir dados através de circuitos telefônicos. Apesar de esses links serem lentos para os padrões atuais (taxas na ordem de 30 kbps), terem baixa qualidade (muitos erros de transmissão), e serem caros (custo em função do tempo de uso), era o que havia e atendia a grande demanda das pessoas por acesso a Internet. Esse tipo de acesso somente caiu em desuso com o surgimento do ADSL, no final dos anos 90 e início dos anos 2000, que fornecia taxas de dados bem superiores e menor custo. O acesso com ADSL ainda é usado, porém outras tecnologias despontam e a tendência é que o suplantem.
Uma característica comum às tecnologias de acesso citadas, seja acesso discado, ADSL ou similares (como ISDN, que não se popularizou), é estarem no domínio de operadoras de dados. Particularmente no Brasil, essas empresas nasceram dentro das grandes empresas de telecomunicações existentes, tais como as companhias telefônicas. Assim, o atendimento de clientes era feito usando infraestrutura e serviços dessas empresas, cabendo aos provedores de acesso complementarem os serviços de dados. As tecnologias envolvidas, e a rede de distribuição para atender os clientes, envolviam grandes investimentos. Porém as novas tecnologias de dados que vêm sendo adotadas têm menor custo, e podem ser implantadas em escalas menores e ainda serem viáveis. Isso tem viabilizado o surgimento de uma nova geração de provedores de acesso que não mais dependem da infraestrutura dessas grandes operadoras para implantarem links de dados para seus clientes.
No cenário atual, os tipos de tecnologias para redes de acesso, olhando-se as redes de telecomunicações na forma de uma hierarquia, podem ser resumidas neste diagrama.
Estrutura da rede MAN e Acesso
Uma rede MAN envolve a infraestrutura e tecnologias para interligar equipamentos de comunicação no alcance típico de uma cidade. Essa grande rede pode ser decomposta em três partes:
- Acesso: a rede de acesso se situa na borda da MAN, sendo composta por equipamentos que implantam os enlaces de acesso dos usuários da rede. Existem diversas tecnologias de acesso, como visto na aula anterior, tais como aquelas baseadas em comunicação sem-fio (Wifi, 3G, 4G, 5G), baseadas em fibra (GPON, EPON, Ethernet), ou em cabos metálicos (xDSL, DOCSIS).
- Agregação: a rede de agregação interliga os equipamentos de acesso, fazendo a intermediação entre eles e o núcleo da rede. Tecnologias típicas nesse nível são MetroEthernet e .
- Núcleo: o núcleo da rede integra todos os equipamentos de agregação da rede, sendo possivelmente interligada com outras redes (ex: rede de operadoras). Tecnologias típicas nesse nível são IP/MPLS.
A figura a seguir exemplifica uma rede MAN com esses níveis de organização:
Uma possível MAN (fonte da imagem)
Nesta unidade estaremos estudando as tecnologias usadas nas redes de acesso.
1.1. Tecnologias de acesso
No escopo de um provedor metropolitano, algumas tecnologias de acesso têm se apresentado recentemente:
- Na categoria FTTx (veja novamente o video da Huawei mais acima) destacam-se GPON e EPON:
- GPON: usa fibra ótica passiva, com taxas típicas de até 2.5 Gbps e facilidades para condicionamento de tráfego. Segue o padrão ITU-T G.984. Essa tecnologia foi atualizada para taxas de até 10 Gbps, sendo então denominada xGPON.
- EPON: também usa fibra ótica passiva, porém com limitações se comparada a GPON (e menor custo). Apresenta taxas de 1 Gbps ou 10Gbps (versão 10G-EPON), e se baseia no padrão IEEE 802.3ah, que é uma variação de Ethernet feita para última-milha.
- PTMP: usa enlaces sem-fio ponto-multiponto, e se baseia tipicamente em uma versão modificada do padrão IEEE 802.11 (wifi), para que se adapte a links com maiores distâncias
- VDSL: esta versão turbinada do ADSL pode ser usada combinada com GPON para atender clientes de um condomínio
- MetroEthernet: disponibiliza enlaces Ethernet adaptados para longas distâncias
- LTE: tecnologia de dados para dispositivos móveis nascida para os sistemas celulares, porém passível de ser usada para enlaces de acesso em menor escala (ver por exemplo esta linha de produtos de um fabricante da Grande Florianópolis)
Tecnologias de acesso (obtido desta fonte)
Este outro video compara resumidamente três tipos de tecnologias: DSL, cabo e fibra ótica.
Comparação entre DSL, cabo e fibra ótica (obtido do Youtube)
No caso de um provedor hipotético a ser implantado, é útil avaliar quais tecnologias podem ser usadas. Inicialmente vale revisar o que os provedores existentes utilizam, pois isso é um indicador de quais tecnologias estão mais popularizadas, têm menores custos e estão mais maduras.
1.2. PPPoE
Em uma rede MAN com um link de última milha do tipo multiponto (ethernet, wifi, PON, possivelmente outros), cada usuário final (ou cliente) tem um link de acesso que se assemelha a uma porta de switch. Sendo assim, para esse cliente o link de acesso parece ter características de um link para uma rede local (LAN). Como nesse tipo de link todos os equipamentos que residem numa mesma LAN podem se comunicar diretamente um com o outro, deve haver uma forma de isolar os clientes, para que se comuniquem somente com o roteador do provedor. Mais importante ainda do que isto, o provedor deve ser capaz de identificar e autorizar facilmente o acesso de cada cliente. A figura a seguir ilustra de forma simplificada como os links para os clientes são fornecidos, e porque, se cuidados não forem tomados, eles podem se comunicar diretamente.
Exemplo de uma rede MAN ethernet: os links de acesso podem ser implementados de diferentes formas, tais como links óticos, xDSL ou mesmo diretamente com ethernet. Notar o switch de agregação na borda da rede de acesso, que implanta uma LAN entre os clientes.
Duas técnicas elementares existem para isolamento dos clientes:
- Uso de VLAN: cada cliente é associado a uma VLAN única, que pode ser uma VLAN IEEE 802.1q ou algum tipo de VLAN legada implementada no escopo do switch de agregação.
- Uso de enlace PPPoE: um enlace PPPoE (PPP over Ethernet) é um enlace ponto-a-ponto virtual implementado sobre uma rede ethernet. Ele pode ser usado como uma forma de autorizar o link do cliente e impedir que se comunique diretamente sobre a rede ethernet.
Na prática, essas duas técnicas costumam ser combinadas. Usam-se VLANs para forçar que um cliente consiga se comunicar somente com a infraestrutura do provedor, e PPPoE para criar um enlace individual por cliente.
PPPoE (PPP over Ethernet)
PPPoE define um método para encapsular quadros PPP dentro de quadros Ethernet, e foi definido na RFC 2516. Ele foi criado para facilitar a integração de usuários discados e banda-larga em provedores de acesso (ISP - Internet Service Providers). Além disso, torna mais fácil o controle de acesso, de uso da rede, e contabilização para usuários que a acessam via rede Ethernet. Assim, é possível implantar uma rede em que os usuários, para conseguirem acesso, precisam se autenticar como em um serviço discado. Uma vez obtido o acesso, podem-se também impor limitações de uso de banda de acordo com o usuário. Exemplos de infraestruturas que podem se beneficiar com essa técnica são redes de condomínios e de prédios comerciais. Finalmente, PPPoE é usado como protocolo de enlace em acessos aDSL, GPON, EPON e sem-fio PTMP, como ilustrado na figura abaixo.
Como se pode notar nessa figura, em enlaces PPPoE há dois tipos de equipamentos:
- Host: o computador ou equipamento que inicia o enlace (esse equipamento é denominado CPE)
- Concentrador (AC): o equipamento que recebe pedidos de estabelecimento de enlace, e funciona como roteador para os enlaces PPPoE.
Quando usado em uma infraestrutura ADSL, por exemplo, uma arquitetura de protocolos de enlace é implementada para fazer os encapsulamentos de PDUs a serem transmitidas. A figura abaixo mostra os protocolos envolvidos nesse uso do PPPoE, com respectivos encapsulamentos.
Como se pode notar nessa figura, em enlaces PPPoE há dois tipos de equipamentos:
- Host: o computador ou equipamento que inicia o enlace (esse equipamento é denominado CPE)
- Concentrador (AC): o equipamento que recebe pedidos de estabelecimento de enlace, e funciona como roteador para os enlaces PPPoE.
Estabelecimento de sessões PPPoE
Em um enlace PPPoE um dos nodos é o host (cliente), e o outro o concentrador de acesso (AC, que tem papel de servidor). O estabelecimento do enlace é iniciado pelo host, que procura um AC e em seguida solicita o início do enlace. Esse procedimento é composto por por dois estágios:
Descoberta (Discovery): o cliente descobre um concentrador de acesso (AC) para se conectar. Ocorre uma troca de 4 PDUs de controle:
- PADI (PPPoE Active Discovery Indication): enviado em broadcast pelo cliente para descobrir os AC.
- PADO (PPPoE Active Discovery Offer): resposta enviada por um ou mais AC, contendo seus identificadores e nomes de serviços disponíveis (no âmbito do PPPoE).
- PADR (PPPoE Active Discovery Request): enviado pelo cliente para o AC escolhido, requisitando o início de uma sessão.
- PADS (PPPoE Active Discovery Session-Confirmation): resposta do AC escolhido.
- Sessão (Session): nessa etapa são trocados quadros PPP como no estabelecimento de um enlace PPP usual. A sessão pode ser encerrada com a terminação PPP (i.e., via protocolo LCP), ou com a PDU PPPoE PADT (PPPoE Active Discovery Terminate).
Quadros PPPoE
As PDUs PPPoE são encapsuladas em quadros Ethernet, usando o ethertype 8863H (estágio de descoberta) ou 8864H (estágio de sessão). Devido ao cabeçalho PPPoE (6 bytes) combinado ao identificador de protocolo do quadro PPP (2 bytes), a MTU em enlaces PPPoE não pode ser maior que 1492 bytes. O quadro PPP é simplificado, não possuindo as flags delimitadoras e os campos Address, Control e FCS. A PDU PPPoE é mostrada a seguir:
2. Redes de acesso sem-fio
Um provedor pode oferecer links de dados sem-fio para seus clientes. Isso tem a vantagem de não exigir infraestrutura entre provedor e cliente (cabos e equipamentos de interconexão), apresentando baixo custo de implantação. O atendimento de múltiplos clientes pelo provedor se apresenta como um cenário denominado PTMP (Ponto Multiponto, ou Point To MultiPoint no original em inglês). No provedor reside a estação base, e cada cliente usa um roteador sem-fio para estabelecer seu enlace. Esse cenário PTMP pode ser visto na seguinte figura.
Redes sem-fio PTMP como essa são atualmente implementadas com base no padrão IEEE 802.11 (Wifi), porém com modificações para adaptá-lo a links de longa distância. A ideia é basicamente:
- A estação base transmite tráfego em downstream para os CPEs.
- O tráfego em upstream (CPEs para base) é feito com uma forma de TDMA ou polling sob o comando da base. A base pode, por exemplo, enviar ciclicamente uma mensagem para cada CPE convidando-o a transmitir por um tempo limitado.
Assim, podem-se ter as taxas de bits atuais do Wifi (ex: 150 Mbps ou 300 Mbps para IEEE 802.11n, ou superiores para IEEE 802.11ac), além das funcionalidades bem conhecidas do Wifi.
Alguns exemplos de produtos que aplicam esses conceitos para prover enlaces PTMP são estes:
2.1. Técnicas usadas em redes PTMP
Devido às características de redes PTMP, em que a distância entre a estação base e os clientes propicia a ocorrência de colisões e interferências, algumas técnicas são usadas para melhorar a eficiência das comunicações. Elas envolvem alguma forma de coordenação das transmissões pela estação base, com o objetivo de evitar colisões entre transmissões de clientes. Note-se, porém, que isso não evita erros devido a colisões e interferências com transmissões e sinais de outras redes.
As técnicas explicadas nas próximas seções são aplicadas, em alguma medida, em soluções existentes para redes PTMP. Como essa soluções adaptam as tecnologias IEEE 802.11 para uso em médias distâncias, existem limitações em como elas podem ser usadas. Isso se deve à forma com que as transmissões ocorrem em redes IEEE 802.11 (lembrem que lá se usa o protocolo MAC CSMA/CA).
As seções a seguir foram adaptadas desta página.
Polling
Técnicas do tipo polling são uma forma de evitar colisões entre transmissões no canal sem-fio. A estação base coordena as transmissões de todos os CPEs, concedendo-lhes o direito de transmitir. A base envia uma mensagem especial para cada cliente, chamada por vezes de poll, de forma a autorizá-lo a transmitir. Com isso, um CPE não transmite enquanto não receber essa mensagem especial, e uma consequência é um aumento na latência percebida pelos CPEs (a latência aqui é definida pelo tempo que pacotes permanecem na fila de saída, até que possam ser transmitidos).
A distribuição dessas mensagens especiais pela base regula as transmissões dos CPEs, pois somente um CPE pode transmitir por vez, eliminando as colisões. O ciclo de transmissão então é formado pelo envio cíclico pela base dessas mensagens especiais, periodicamente autorizando os CPEs a transmitirem.
A figura acima mostra um diagrama de tempo em que se podem visualizar as mensagens enviadas por base (BS) e CPEs.
Confirmações e retransmissões trazem em geral maior confiabilidade e reduzem a quantidade de mensagens perdidas. Ao mesmo tempo, isso pode criar problemas em uma rede PTMP, porque um cliente sujeito a muitas interferências (erros) aumentaria a latência para todos os demais clientes. Em consequência, a vazão total (throughput) percebida na estação base depende da existência desses clientes problemáticos. Uma forma de atenuar esse problema é limitar o tempo que cada cliente pode transmitir, uma vez recebida a mensagem poll.
TDMA
Outra forma de evitar colisões é usando tecnologias do tipo TDMA (Time Division Multiple Access). No contexto de redes PTMP, TDMA separa cada comunicação entre estação base e cliente em duas sequências: uma transmissão primeiro vinda da estação base para os clientes, e em seguida de um cliente para a estação base. Cada sequência possui a mesma duração máxima, que depende do tempo de transmissão concedido (por exemplo, 10 ms). A figura a seguir ilustra essa forma de acesso ao meio em redes PTMP.
Intervalos de tempo usados pela estação base (em azul) e por clientes
A intervalos regulares, de acordo com algum algoritmo, cada cliente recebe um intervalo de tempo para transmitir pacotes que estejam em espera em sua fila de transmissão. Para que isso funcione, deve-se garantir que cada cliente transmite exatamente no instante de tempo informado, e que sua transmissão não exceda o tempo concedido. Isso inclui todos os tipos de pacotes que possam ser enviados, tais como dados, confirmações e retransmissões. O resultado é uma escala de transmissão, exemplificada na figura a seguir, em que base e clientes transmitem de forma sincronizada, evitando colisões.
Transmissões em uma rede PTMP envolvendo uma estação base e alguns clientes
A sincronização é essencial para o funcionamento de um acesso TDMA. Base e clientes devem sincronizar seus relógios de forma que possam respeitar os instantes de tempo definidos para suas transmissões. Esse tipo de sincronismo é difícil de ser feito, e requer hardware especial (ex: GPS) e software capaz de iniciar e encerrar transmissões com a acurácia requerida. Por isso, algumas soluções existentes para redes de acesso PTMP, apesar de se anunciarem como sendo baseadas em TDMA, na verdade usam alguma forma de Polling com limitação de tempo de transmissão.
3. Redes de acesso com fibra-ótica
Uma tecnologia para acesso que se popularizou acentuadamente em anos recentes usa fibras óticas para prover serviço de dados para clientes. As redes PON (Passive Optical Network) tem sido implantadas de forma crescente por provedores de acesso, proporcionando altas taxas de transmissão (atualmente até 10 Gbps) com baixo custo de implantação.
Antes de iniciar o estudo sobre tecnologias específicas para redes PON, vamos relembrar alguns conceitos sobre suas arquiteturas. Entendam por isso a forma como se estrutura uma rede PON, e os elementos utilizados para implantá-la. Este video (original no Youtube, no canal Huawei Documentation Insights) descreve especificamente a estrutura da rede de distribuição ótica:
Este outro video (original no canal Youtube James Donovan) entra em mais alguns detalhes sobre as arquiteturas de redes PON, ou a forma como se estrutura a ODN:
Para fazer uso da infraestrutura física da rede PON existem basicamente duas tecnologias atuais:
- GPON: os enlaces de dados se baseiam em tecnologia de encapsulamento própria (GEM) que oferece flexibilidade de configuração para os enlaces e bom controle sobre o uso da capacidade da rede. O padrão XG-PON é uma atualização do padrão para taxas de até 10 Gbps.
- EPON: os enlaces de dados se baseiam em Ethernet, com menor custo porém menor controle sobre o uso de recursos da rede. Há uma atualização do padrão para 10 Gbps.
Uma introdução sobre ambas tecnologias pode ser vista neste video (e também neste blog).
Outras referências
3.1. EPON
A tecnologia EPON apenas defina como as transmissões ocorrem na rede PON. A rede física (ODN) não sofre alterações, e segue as arquiteturas vistas na introdução sobre acesso com fibras-óticas. Isso pode ser claramente visto na figura a seguir, que mostra uma rede PON em que se usa o padrão IEEE 802.3ah. Ela não apresenta qualquer diferença em relação ao que foi visto sobre redes PON.
O padrão IEEE 802.3av, publicado em 2009, estende as redes EPON para operarem a 10 Gbps, sendo chamadas de 10G-EPON. Esse padrão define duas configurações possíveis:
- Simétrico: possibilita taxas de 10 Gbps tanto em downstream quanto upstream
- Assimétrico: a taxa de downstream é de 10 Gbps, mas de upstream é de 1 Gbps.
A tecnologia concorrente de EPON é GPON. Em outra lição se apresentarão maiores detalhes sobre essa outra tecnologia. Por enquanto, o video a seguir ilustra as características principais de GPON e EPON:
Comunicação em uma rede EPON
Uma rede EPON é formada por um equipamento concentrador localizado nas instalações do provedor, denominado OLT (Optical Line Terminator), e vários equipamentos terminais localizados nas dependências dos clientes, denominados ONU (Optical Network Unit) ou ONT (Optical Network Terminal). O OLT implanta a rede ótica e coordena as transmissões dos ONU. Além disso, um ONU somente pode se comunicar pela rede ótica se devidamente reconhecido e autorizado pelo OLT. Em uma rede EPON pode haver até 64 ONUs por fibra.
Para operação em modo full-duplex, os sistemas EPON multiplexam os sinais de transmissão da OLT para as ONU’s (downstream) e das ONU’s para a OLT (upstream) usando diferentes comprimentos de onda de luz: 1490nm para os sinais downstream e 1310nm para os sinais upstream (FONTE).
Como em uma rede EPON a fibra ótica entre OLT e os ONU é compartilhada, as transmissões devem seguir algumas regras. Cabe ao OLT comandar as transmissões. No caso downstream, os quadros transmitidos pelo OLT são recebidos por todos ONU. Cada ONU filtra os quadros recebidos com base em um identificador contido em cada quadro, dessa forma descartando aqueles quadros não destinados a si. No sentido upstream as transmissões ocorrem em modo TDMA, em que cada ONU transmite de acordo com um timeslot concedido pelo OLT (um timeslot possui uma duração e instante inicial). Com esse procedimento, não ocorrem colisões entre transmissões de OLT e ONUs. As figuras a seguir ilustram os casos downstream e upstream.
Downstream: todos ONU recebem os quadros enviados pelo OLT, e os filtram com base em um identificador contido nos quadros
Upstream: cada ONU transmite seus quadros de acordo com seu timeslot concedido pelo OLT
O gerenciamento dos ONU e das transmissões upstream em uma rede EPON se faz por meio do protocolo MPCP (Multi-Point Control Protocol), que estende o protocolo MAC e implementa estes serviços:
- Prover referência de tempo para sincronizar ONUs
- Controlar o processo de auto-descoberta de ONUs
- Atribuir largura de banda aos ONUs (limites de tempo de transmissão por ciclo)
No MPCP, cada ONU é identificado com um número único de 16 bits denominado LLID (Logical Link Identification), o qual é gerado dinamicamente pelo MPCP. Esse número fica no preâmbulo dos quadros, e é usado pelos ONU para filtrar os quadros recebidos do OLT. Apenas quadros rotulados com o LLID atribuído ao ONU são aceitos.
A figura a seguir detalha a comunicação entre OLT e ONUs usando o protocolo MPCP, em particular como funcionam as transmissões em upstream. O OLT transmite mensagens GRANT para os ONUs, as quais informam em que momento cada ONU poderá transmitir, e por quanto poderá usar a fibra. Esse tempo deve ser suficiente para a ativação e desativação do laser, e para a transmissão dos dados em si. No intervalo de transmissão de dados, mais de um quadro Ethernet pode ser transmitido, contanto que o tempo limite seja respeitado.
Um ciclo de transmissões em upstream: cada ONU transmite seus quadros de acordo com um tempo concedido pelo OLT
Provisionamento em redes EPON
Em Telecomunicações, provisionamento significa implantar, configurar e gerenciar o serviço para o cliente, e a sigla OAM (Operation, Administration and Maintenance) descreve suas funções. O provisionamento remoto implica existirem protocolos para realizar essas tarefas nos equipamentos dos clientes de forma automática e sem precisar da presença física de um profissional nas dependências do cliente.
No caso de EPON, o provisionamento remoto se faz com um protocolo denominado também OAM. Suas mensagens, chamadas de OAMPDU, são transportadas diretamente em quadros Ethernet. Essas mensagens possibilitam:
- Envio de alertas pela ONU, usados para monitoramento do link
- Consultas e modificações de atributos da ONU (ex: modo de operação da ONU, configuração de de interfaces de rede, configuração de VLANs, definições relacionadas a qualidade de serviço)
- Configurações específicas do fabricante
Outras referências
3.2. GPON
A norma de redes ópticas ponto-multiponto GPON (Gigabit Passive Optical Network) foi escrita pela ITU-T (International Telecommunication Union – Telecommunication Standardization Sector) e patrocinada pela Associação Mundial de Fabricantes e Operadoras de Telecomunicações, a FSAN (Full Service Access Network).
Em 2003, foi lançada a primeira versão da família de normas GPON, a ITU-T G.984. Nos anos seguintes, foram aperfeiçoadas e lançadas novas vertentes da norma, como:
- G.984.1: Características gerais
- G.984.2: Especificação de camada física, Physical Media Dependent (PMD)
- G.984.3: Especificação de camada de trasnmissão convergente
- G.984.4: Especificação de gerencia e controle de interface da ONT (OMCI)
- G.984.5: Aprimoramento de banda para coexistencia com futuras redes WDM PON no mesmo meio físico
As redes GPON possuem largura de banda assimétrica, de 2,5 Gbps para downstream e 1,25 Gbps para upstream. Sua plataforma é desenvolvida para operar multisserviços com diferentes protocolos sendo encapsulados em protocolos GEM (GPON Encapsulation Method) para transporte, o que garante maior confiabilidade de sinal, atingindo até 93% de eficiência na transmissão. Seu alcance físico se mantém igual ao EPON (20 km) e seu nível de splittagem é o dobro, ou seja, 128 ONTs por porta PON.
Já existem aplicações comerciais operando com o padrão ITU-T G.987, que define a operação GPON em 10 Gbps, que é desenvolvido em duas vias o: XG-PON (10 Gbps downstream e 2,5 Gbps upstream) e XGS-PON (10 Gbps simétricos). O padrão está começando a ganhar mercado mundo afora e é uma tendência de futuro para migração das atuais redes GPON, operando em modo coexistente com o GPON, assim, a atualização da plataforma se torna mais fácil e escalável para o provedor.
Pensando ainda mais à frente, o ITU-T já definiu o padrão G.989 para redes NG-PON2 que tratam o uso dos comprimentos de onda e alcança um throughput de até 40 Gbps.
Comunicação em GPON
A comunicação em GPON é muito parecida com o que acontece em EPON. A transmissão do OLT para as ONUs é feita em broadcast, com todas ONUs recebendo os quadros e filtrando aqueles que não são destinados a si. E as transmissões das ONUs são feitas em TDMA, com time-slots definidos pelo OLT. As figuras a seguir ilustram as transmissões em cada sentido.
Transmissão em downsteam feita em broadcast
Transmissão em upstream feita em TDMA
Mais especificamente, em nível físico as transmissões são feitas em quadros com duração de 125 us. Dentro de cada quadro fisico, transmitem-se vários pacotes, dependendo da quantidade de dados em espera nas filas de saída.