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Material Didático 3: Explorando o processo de pensar e de desenvolver soluções

Site: Moodle - IFSC
Curso: O fazer extensionista 2021.1
Livro: Material Didático 3: Explorando o processo de pensar e de desenvolver soluções
Impresso por: Usuário visitante
Data: sexta, 22 Nov 2024, 04:46

Introdução


Chegamos à terceira parada do curso “O Fazer Extensionista” e queremos exercitar com vocês, em equipe, o processo de pensar e de desenvolver soluções.

Para isso, iremos apresentar três situações bem atuais para refletirmos sobre elas nesse processo de construção. Vamos aprender alguns conceitos novos e também exercitar algumas ferramentas que iremos conhecer nesta etapa, a Parada 3!

Ao final, esperamos que vocês consigam estruturar, com base no aprendizado obtido com os exemplos trazidos, um plano de ação de uma atividade de extensão.

Neste material, utilizaremos, de forma adaptada, o livro didático “Construindo soluções para as demandas locais”, do curso de “Formação Continuada em Práticas Extensionistas com Base na Inovação Social”, do IFSC.

 

Prontos para começarem mais esse desafio? Vamos juntos, galera!

1 Reconhecendo Cenários para a Proposição de Ideias

Vocês já se perguntaram se são capazes de mudar o mundo?

A resposta é clara: conseguimos sempre mudar o mundo, mas nós devemos começar mudando o nosso mundo, ou seja, aquele que existe à nossa volta. Há problemas que são do tamanho do planeta mesmo, mas se conhecermos as nossas capacidades e entendermos os recursos que temos à disposição, passamos a contribuir com o processo de solução. E aí, estamos mudando o mundo, a partir das mudanças à nossa volta.

Vamos pensar em três situações que estão afetando a vida de todos no Planeta Terra, e que, independentemente do pedacinho de terra do Planeta que vocês estejam, neste exato momento, elas também estão impactando a vida de vocês de alguma forma. Vamos fazer juntos o exercício de construir soluções para essas situações?

 

Situação 1: a pandemia da COVID-19, provocada pelo novo coronavírus (SARS-Cov-2).

Situação 2: o feminicídio ou a violência praticada contra mulheres pelo fato de elas serem mulheres.

Situação 3: o mau uso dos recursos naturais do Planeta Terra e as práticas insustentáveis.

Figura 1: três cenários atuais (pandemia provocada pelo SARS-Cov-2, feminicídio e práticas insustentáveis representadas em imagens. Discutiremos propostas com base nestas situações. Fonte: elaboração própria.

 

1.1 Iniciando a fase de “ideação”

Nós já aprendemos a identificar as necessidades da nossa comunidade. Então, chegou a hora de provarmos que em cada necessidade não atendida há uma oportunidade não explorada. E vamos nos preparar para, juntos, explorarmos a possibilidade de encontrar as possíveis soluções para resolver os problemas que identificamos.

É hora de “botar a cuca” para funcionar e propor ideias. Quantas ideias?

Todas as ideias que vocês conseguirem pensar! Nessa etapa do processo, não sabemos ainda qual será a melhor (isso veremos em etapas um pouco mais adiante). Então, o que faz diferença agora é ter ideias, uma infinidade delas! É por isso que há um nome técnico para essa etapa: estamos no processo de ideação.

Vamos fazer acontecer esse processo gerando ideias para solucionar os três problemas que reconhecemos acima? Mas, primeiro, iremos conhecer o processo de ideação um pouco mais profundamente.

1.2 Gerando ideias


Fiquem tranquilos que nós vamos fazer todo esse trabalho em equipe!

A primeira coisa que precisamos fazer é repassar os problemas que identificamos, ou seja, as necessidades da nossa comunidade percebidas no Desafio 2.

Há muitas formas de se organizar as ideias que se tem. Nós vamos sugerir a vocês três caminhos diferentes (por três ferramentas distintas). Vocês podem repetir o exercício, se quiserem, cada vez por um caminho. Assim, vocês encontrarão, certamente, algum caminho com o qual estejam mais próximos:

  1. Pensar por conta e discutir junto: se escolherem essa forma de exercício, cada um(a) da equipe vai pensar por si e registrar num papel as ideias para resolver o problema. Não precisam descrever em detalhes, apenas anotem palavras simples ou expressões que lembrem vocês como solucionar o problema. Vocês podem estabelecer um número mínimo, por exemplo, 3 para cada integrante. Mas, se elas forem repetidas? Não tem problema! Isso pode levar vocês a refletirem: “Por que pensamos a mesma coisa? Será que há alguma ideia mais fácil de ser pensada que outra? Esta será a melhor solução?”. Esse exercício também é um elemento importante de análise. As vantagens desse processo é que cada um(a) se desafia e todos têm a mesma oportunidade no processo de geração de ideias.

  2. Pensar em conjunto e discutir em conjunto: se optarem por essa estratégia, as ideias serão geradas de forma conjunta. Igual ao modelo anterior, vocês precisam ter uma forma de registro: utilizar um papel de recado (post-it), anotar apenas uma palavra-chave ou algo que identifique cada uma delas. Nesse modelo, a vantagem é a coletividade na ideação. E o que significa isso? Significa que todos devem ter a oportunidade de contribuir com o processo de geração de ideias. Por isso, é importante o exercício de reflexão: está havendo espaço para que todos contribuam? Alguém pode ter mais facilidade em se expressar, mas, lembrem-se que todas as ideias somam e quanto mais todos tiverem a oportunidade de expressá-las, melhor. 

  3. Pensar em conjunto e desenhar em conjunto: se escolherem essa estratégia, as ideias de vocês ganharão forma por meio da construção de um mapa de pensamentos, também conhecido por mapa mental. Trata-se de uma ferramenta que representa os processos detalhados, buscando conectar as informações pelo seu grau de relacionamento. Por exemplo: duas diferentes informações podem estar conectadas, porque uma é a causa e a outra é o efeito; ou, podem guardar relações de simetria, de similaridade, quando se tratam de formas distintas de atender a um mesmo objetivo. Como todo mapa, tem a vantagem de apresentar uma visão mais global, pois, no entorno do problema identificado, vão-se criando conexões que ajudam a dar uma visão mais ampla para que se tente resolver o problema. É parecido com a construção feita no exercício anterior. Mas, acrescenta o fato de unir as informações pelas ramificações do mapa, criando uma espécie de estrutura organizada de pensamentos, em que se consegue observar, exatamente, o grau de relação que cada ideia tem a partir do problema central identificado. Essa forma de ideação contribui com a memorização do processo, e, também, permite avaliar quais as ideias que têm relação mais próximas com o problema central e quais estão mais distantes dele. Esse processo pode auxiliar, depois, na tomada de decisão de qual ideia ajudará a resolver de forma mais eficiente o problema identificado.

1.3 Estruturando e selecionando as ideias

Agora que vocês redefiniram o problema e já criaram uma quantidade considerável de ideias, a partir da experiência que tiveram em equipe, vamos começar a organizá-las?

A organização começa com a classificação e o agrupamento das ideias por semelhança, assim, vocês começam a identificar padrões e a serem capazes de sintetizar e qualificar o processo.

Para organizá-las, faremos o seguinte:

  1. Vamos agrupar as ideias parecidas ou iguais. Podemos, por exemplo, formar pilhas com os papéis de anotação (post-its). Esse exercício vai permitir enxergar quantas ideias vocês produziram ao total, como equipe.

  2. Vamos validar as ideias selecionadas.  Neste momento, precisamos entrar em contato com o público alvo da nossa atividade, aquele selecionado na coleta de dados do Desafio 2, e validar se a(s) ideia(s) está(ão) de acordo com as suas necessidades. Esse processo é mais positivo quanto maior for a nossa sensibilidade para a percepção do nosso entorno. Alguns de vocês, especialmente aqueles que já tiveram uma experiência de viver a Extensão, numa imersão verdadeira em suas comunidades, sabem o quanto as ideias geradas precisam ser bem-recebidas durante o processo de intervenção (do qual falaremos mais adiante). O olhar extensionista é o que aproxima as comunidades interna (servidores e discentes) e externa (setores da sociedade em geral).

Após organizarem as ideias e validá-las, vocês irão escolher uma ou mais de uma para ser(em) aprimorada(s) e se transformar(em) em uma solução para a demanda que vocês haviam identificado. Aqui, independentemente de como vocês escolheram exercitar o processo de ideação, é importante que seja uma atividade de integração e de decisão da equipe. Todos devem contribuir para apontar a(s) ideia(s) que possa(m) ser desenvolvida(s).

E como iremos saber quais as ideias que podem ser melhor desenvolvidas?

Alguns elementos são importantes e devem ser considerados:

  • O mapa mental,  por exemplo, ajuda vocês a avaliarem o grau de relação (direta, indireta e próxima; indireta e distante; indireta e muito distante) que a ideia apontada tem com o problema. Com isso, conseguimos estimar a capacidade de solvência do problema identificado.

  • Outro aspecto que vocês podem avaliar é se a ideia é executável. Tem ideias muito legais, mas, pode acontecer que, para serem colocadas em prática, elas precisem de recursos (temporais, financeiros, humanos, instrumentais, técnicos, tecnológicos, políticos) que não estão ao nosso alcance. Dessa forma, a ideia pode até ser registrada, como, por exemplo, “se tivéssemos a possibilidade de…”, “se dispuséssemos do recurso tal…”, “se pudéssemos ampliar o prazo para…”. Assim, para desenvolver, vocês terão que escolher outra(s) que seja(m) compatível(is) com as possibilidades que vocês têm. Essa decisão é fundamental!

É um exercício de autoconhecimento (de conhecimento de suas próprias capacidades), selecionar a(s) ideia(s) que pode(m), de fato, ser(em) executada(s) e resolver o problema identificado.

Depois de realizada essa seleção, vamos trabalhar na estruturação desta ideia com maior potencial observado por vocês, para que ela possa ser desenvolvida. Aqui, é o momento que vocês precisam parar para refletir se possuem todos os elementos que precisam para conseguir explicar a ideia de vocês de forma clara e concisa.

 

Figura 2: esquema representativo do processo de transformação de uma lagarta em borboleta, alinhando com a ideia de que há elementos associados ao início do processo, elementos que demarcarão a parte central do processo e elementos que são esperados de serem encontrados ao final do processo. Fonte: elaboração própria.

 

2 Construindo a proposta de atividade de extensão

Agora, vamos conhecer quais elementos precisam aparecer na apresentação de uma ideia, que demonstrem a descrição organizada, clara e metódica de um processo com capacidade de execução, ou seja, com viabilidade para acontecer de verdade. E quando falamos a palavra viabilidade, referimo-nos a todos os tipos de viabilidade: econômica, temporal, tecnológica, humana, etc.

Uma ótima ideia sem um plano traçado, não permite que enxerguemos a sua viabilidade. Pelo contrário, às vezes, uma ideia tímida, mas com um plano de ação bem definido, alcança todos os elementos necessários para a sua exequibilidade, ou seja, para que ela possa acontecer. Então, primem pela organização da ideia que vocês escolheram para desenvolver.

O detalhamento da ideia tem que contribuir para que ela seja melhor contada. Por isso, foquem nas informações relevantes, naquelas que não podem faltar, pois, se estivessem ausentes, comprometeriam a possibilidade de que outras pessoas entendessem-na e enxergassem nela o mesmo potencial que vocês foram capazes de visualizar.

 

Figura 2: esquema representativo do processo de transformação de uma lagarta em borboleta, alinhando com a ideia de que há elementos associados ao início do processo, elementos que demarcarão a parte central do processo e elementos que são esperados de serem encontrados ao final do processo. Fonte: elaboração própria.

 

Um processo precisa ter início, meio e fim. Então, a atividade de extensão que iremos propor no desafio desta parada precisa seguir a mesma lógica e contemplar todos os elementos necessários para explicar o processo.

Para isso, vamos trabalhar com a ferramenta 5W2H. A partir da visão completa das principais funções de cada componente dessa ferramenta e do relacionamento entre eles, vocês compreenderão, de modo resumido, como funciona a estruturação de propostas de atividades de extensão. 

 

 

Figura 3: esquema representativo dos elementos que compõem a ferramenta 5W2H. Fonte: elaboração própria.

 

Para a estruturação da nossa proposta, a partir da ferramenta 5W2H, precisamos responder as sete perguntas abaixo:

  1. O que iremos fazer?

  2. Por que iremos fazer?

  3. Com quem e para quem iremos fazer?

  4. Onde iremos fazer?

  5. Quando iremos fazer?

  6. Como iremos fazer?

  7. Quanto iremos precisar para fazer?

Se soubermos responder a todas essas perguntas, temos em mãos todos os elementos necessários para a nossa atividade de extensão.

Então, vamos entender por partes cada uma delas? 

2.1 Os objetivos (O que fazer?)

A ideia tem que aparecer, de forma clara e concisa, no objetivo geral da proposta.

O objetivo geral precisa resumir a ideia, ou seja, trazer de forma clara e objetiva o que se pretende fazer. Ele deve ser descrito de modo direto, fazendo uso de verbos no infinitivo.

Vamos exercitar com os nossos exemplos lá do item 1?

  • Situação 1: “Avaliar o impacto da pandemia do novo coronavírus no setor do turismo, na região de Florianópolis, no verão de 2020” poderia ser um objetivo geral para o primeiro exemplo de cenário que sugerimos.

  • Situação 2: “Correlacionar o impacto da pandemia do novo coronavírus com o aumento dos casos de violência doméstica por setores da sociedade” é uma frase que contempla todos os elementos para se constituir em um objetivo geral para o exemplo do segundo cenário que apresentamos a vocês.

  • Situação 3: “Avaliar o efeito do aprendizado de práticas de sustentabilidade nas escolas de educação básica na diminuição do desperdício de recursos hídricos, energéticos e alimentares”, sem dúvida, poderia ser um objetivo geral para o terceiro cenário que expusemos aqui neste livro.

O objetivo geral não deve apresentar elementos que digam como a proposta será desenvolvida; deve estar limitado a informar de forma clara e objetiva, no sentido literal da palavra, apenas o que será feito.

Normalmente, ele é dividido em objetivos específicos. Essa divisão apresenta o detalhamento de pequenas metas que, juntas, irão atender ao objetivo geral. Ou seja, são os objetivos específicos que dão o passo a passo de como chegaremos ao objetivo geral.

Vamos explorar mais a fundo um dos nossos exemplos anteriores: para atendermos ao objetivo geral de “avaliar o efeito do aprendizado de práticas de sustentabilidade nas escolas de educação básica na diminuição do desperdício de recursos hídricos, energéticos e alimentares” propõe-se:

a) desestimular o uso de embalagens descartáveis para a distribuição da merenda e estimular o uso de canecas e pratos reutilizáveis;

b) distribuir mensagens junto aos locais de merenda que apresentem dados de economia de recursos pela adoção de estratégias simples que minimizam o desperdício;

c) incentivar o trajeto de ida e volta da escola a pé, de bicicleta ou de patinete por meio de uma gincana de turma.

As ações a serem desenvolvidas na obtenção dos objetivos específicos respondem a questionamentos como: "Quais são os aspectos a serem trabalhados que irão contribuir para avanços no desenvolvimento da atividade?" "Quais as mudanças que se espera?" "De quanto será esta mudança?" "Quando se espera que ocorram?".

Esses objetivos referem-se às etapas intermediárias que deverão ser cumpridas ao longo da execução da atividade de extensão e devem estar vinculados ao objetivo geral, contribuindo para que ele seja atingido.

2.2 Justificativa (Por que fazer?)

A justificativa significa responder a uma pergunta: por que estamos apresentando essa proposta? Justificar uma ação, então, será dizer a razão pela qual essa ação é importante e precisa acontecer.

Uma proposta de atividade de extensão pode ter várias razões para ser considerada relevante, o seu trabalho aqui é explicitá-las, o que pode ser feito em poucos parágrafos. Lembrem-se de que a coleta de dados, realizada durante os estudos da Parada 2, servirá de base para vocês argumentarem e construírem a sua justificativa.

Uma justificativa se enriquece quando se apresentam elementos numéricos (quantitativos) que a deem respaldo, por exemplo:

  • “Até a metade do mês de novembro de 2020, mais de 54 milhões de pessoas foram contaminadas pelo novo coronavírus, e mais de 1,3 milhão de mortes no mundo têm como causa o SARS-Cov-2 (OPAS, 2020)”;

  • “Com violência doméstica em alta na pandemia, feminicídios crescem 22% no país (CNN, 2020)”;

  • “Até 2030, prevê-se um aumento do consumo de água em mais de 50%, de energia em mais de 40% e de alimentos em mais de 35% em todo o mundo (Embrapa, 2020)”.

Ou, dados concretos (qualitativos): “As tendências de expansão populacional, a maior longevidade e o aumento do poder aquisitivo de parte da população de Ásia, África e América Latina, especialmente, são fatores que contribuem para as projeções mundiais de aumento no consumo de água, de energia e de alimentos (Embrapa, 2020).

Sabem quando vocês precisam “convencer” alguém a participar de alguma atividade com vocês? E vocês começam a buscar razões para convencer essa pessoa? Então, é algo parecido, mas feito de forma estruturada e planejada.

No contexto de proposição de ideias, a justificativa é o ponto-chave, sendo também o motivo pelo qual faz sentido que alguma coisa seja feita. Em outras palavras, representa a razão pela qual faz sentido a construção da proposta de vocês.

E quanto melhor vocês estruturarem a justificativa, quanto mais relevantes e confiáveis forem as informações apresentadas por vocês, tanto mais defensável e mais justificável será a ideia de vocês.

Mas temos que entender o que é relevância e o que é confiança.

Não se trata da mesma coisa, mas ambas tratam de conceitos igualmente importantes e que precisam ser apresentados na justificativa do trabalho de vocês: a relevância é a própria importância. Quanto maior, ou mais impactante, ou mais urgente, o problema diagnosticado por vocês na etapa de análise, por conseguinte, maior será a necessidade de que algo seja feito para solucioná-lo. Em outras palavras, maior é a relevância. 

Já a confiança consiste na fonte de informação que usamos para embasar, para dimensionar, para alertar sobre o problema diagnosticado.

E aqui, temos que ter um cuidado importante: temos que nos colocar no lugar do(a) leitor(a) que irá avaliar a proposta de vocês, porque ele(a) pode:

  • não conhecer o local em que vocês identificaram o problema;

  • não estar familiarizado com a área de estudo/trabalho de vocês, ou

  • numa outra perspectiva, já conhecer muito sobre o problema que vocês diagnosticaram.

Independentemente da bagagem de experiências que o(a) avaliador(a) tenha, ele(a) terá um papel muito importante no processo de análise da proposta de vocês, ele(a) deverá ser: crítico(a), questionador(a) e imparcial. E vocês? Deverão fornecer a ele(a) informação relevante e convencê-lo(a) com argumentos sólidos, irrefutáveis. 

Mas onde encontraremos esses argumentos?

Em fontes seguras, atuais e confiáveis de informação. Como nos exemplos que estamos trabalhando neste livro, usamos três informações baseadas em instituições e/ou empresas com uma reputação a zelar, e mencionamos dados atuais.

E como sabemos se o dado é suficientemente atual?

Esse é um exercício que cada um(a) de vocês irá desenvolver diferentemente, porque vocês precisam conhecer a velocidade com que a informação se renova na área de vocês.

Voltando aos exemplos citados anteriormente, qualquer informação sobre o número de mortes pelo novo coronavírus que não seja mais próxima do momento em que a proposta está sendo elaborada, já está desatualizada.

Mas, por que isso acontece?

Porque estamos avaliando o impacto de uma doença que está acontecendo neste exato momento.

Já os dados de projeção para o aumento do consumo de recursos hídricos, energéticos e alimentares em 2030 podem se manter os mesmos daqui a cinco anos. Isso acontece porque as estimativas já levaram em consideração todos os possíveis cenários até 2030, e, nesse caso, estamos falando de um dado muito mais estável no tempo.

Para finalizar, um último comentário: quanto melhor vocês desenvolverem a argumentação, maior será a possibilidade de vocês defenderem a sua proposta.

E por que isso é importante?

Porque um dos recursos escassos no mundo é o dinheiro. Há recurso financeiro para o desenvolvimento de atividades de extensão que apresentem boas ideias, que se comprometem a resolver problemas de fato. Mas, não há recurso para todas as propostas. Especialmente, não há recursos para que se coloque em prática uma proposta que não consiga apresentar a sua relevância de forma clara, ou seja, não haverá recurso sem uma boa justificativa. Então, caprichem na escolha de detalhes relevantes e se esforcem na capacidade de síntese de comunicação da ideia!

2.3 Metodologia (Como fazer? Quando fazer? Com quem fazer? Para quem fazer? Quanto vai custar fazer?)

A metodologia é a organização da estratégia. Dentro dos procedimentos metodológicos temos que incluir toda a informação mínima suficiente para mostrar como alcançaremos o objetivo da proposta.

Ao detalhar o passo-a-passo de cada etapa, a metodologia consegue dar a receita para que cada objetivo específico seja alcançado, traçando uma linha direta com o objetivo geral.

Ao definir o momento em que cada etapa acontecerá e o intervalo de duração de cada uma delas, estamos respondendo à perguntaQuando fazer?.

Voltando aos nossos exemplos, a etapa de imunização em massa (vacinação contra a Covid-19) acontecerá quando a etapa de ensaios clínicos em fase 3 (estudos populacionais de resposta à imunização) for concluída com sucesso. 

Ao dividirmos a equipe de integrantes com tarefas específicas a serem executadas, estamos dando atribuições a todos e justificando a necessidade de cada um(a) dentro da equipe. É a oportunidade que temos de dividir as funções de forma a dar protagonismo a todos.

Cada tarefa importa! Cada pessoa na equipe importa! Quando vocês aprenderem a olhar a equipe como um time, vocês serão capazes de enxergar que sem a contribuição de cada pessoa que ali esteja, a ação não acontece dentro do planejado.

Querem ver como isso acontece com um exemplo?

Mesmo que um(a) colega possa saber fazer a mesma atividade que outro(a), ele(a) teria uma carga de atividades dobrada, e isso poderia comprometer os prazos de entrega planejados.

Também será importante explicitar na proposta quem será o público para o qual ela será desenvolvida, ou seja, a comunidade externa que participará da atividade de extensão.

Novamente, retomando aos nossos exemplos:

1) pensar uma ação de comunicação no combate à pandemia do novo coronavírus, por meio de ações de cuidados preventivos a populações com comorbidades, pode ter como público-alvo populações com elevado número de comorbidades;

2) pensar uma ação de consciência do papel da mulher na educação cidadã de seus(uas) filhos(as) para a igualdade de gênero pode ter como público-alvo mulheres-mães de qualquer geração;

3) pensar uma ação de reconhecimento do papel de responsabilidade sobre o planeta que herdamos e o mundo que queremos deixar para as futuras gerações, pode ter como público-alvo qualquer cidadão(ã), mas se focarmos em ações concretas que podemos fazer na escola, podemos atingir ao público de estudantes.

Ao respondermos às duas perguntas anteriores, quem participa da equipe executora e quem participa da comunidade, estaremos deixando claro na metodologia Com quem fazer?” e “Para quem fazer?.  

E chegamos à parte em que teremos que detalhar os recursos que serão necessários para que a nossa proposta consiga ser colocada em prática. Recurso é um conceito amplo.

Já definimos o recurso temporal no momento em que dissemos quando cada etapa da nossa proposta irá acontecer e qual o intervalo de tempo entre uma e outra.

Outro recurso que já abordamos foi o recurso humano, e já entendemos que cada pessoa e que todas as pessoas envolvidas na equipe executora têm que ter uma função definida e justificada para estarem no time. E que a proposta tem que contemplar de forma clara o público-alvo, ou seja, quem na comunidade externa estaremos atendendo com aquela ação.

Os recursos técnico e tecnológico possuem uma correlação imediata com o recurso humano. Frutos diretos da relação do Homem com o seu ambiente de sobrevivência, as tecnologias são ferramentas aplicadas para facilitar o desenvolvimento das atividades humanas; já as técnicas são a forma como se descreve o uso dessas tecnologias.

Em toda a sua existência, as civilizações sempre inovaram, sempre evoluíram, sempre alteraram o ambiente e as suas relações com este de forma a permitirem a sua sobrevivência. A ciência avança com base na evolução de técnicas e de tecnologias. É por isso, que a metodologia precisa também se apoiar em elementos já conhecidos da ciência, ou seja, em elementos técnicos e tecnológicos que podem corroborar na ação planejada.

A adoção de uma metodologia inédita carece de comprovação científica, antes de ser aplicada na prática. Nada impede de que se faça isso, mas se trata de outra esfera da nossa instituição, a esfera que abrange a pesquisa.

Na área da extensão, só podemos propor uma atividade que possa ser sustentada por argumentos metodológicos já validados, ou seja, que comprovadamente fazem sentido dentro do recorte temporal em que estamos, caso contrário, não temos uma atividade de extensão, temos uma hipótese ainda a ser testada, e quem se encarregará desta etapa é a pesquisa.

O último recurso que iremos abordar então, é o recurso econômico. Toda proposta precisa trazer as necessidades financeiras requisitadas para a sua execução. Uma proposta pode não precisar nem de insumos, nem de material permanente, para que seja colocada em execução. Mas, lembrem-se, há outros recursos que com certeza farão falta: de forma resumida, o tempo das pessoas envolvidas.

Então, sejam muito pés-no-chão na hora de proporem a atividade de extensão de vocês: todo recurso tem que apresentar justificativa de emprego na metodologia.

Para o caso de propostas que precisem de bens, vocês terão que avaliar o tipo de bem que se faz necessário. Bens consumíveis são aqueles que se esgotam em um relativo espaço de tempo, geralmente, compatíveis com o tempo de execução da atividade. Bens permanentes são aqueles que permanecerão existindo por um longo período de tempo, geralmente superior ao tempo de execução da atividade.

Independentemente da natureza do bem necessário para ser adquirido, há que existir justificativa clara para a sua aquisição, respaldada na sua relevância para a execução da proposta, e compatibilidade econômica entre o custo para a sua aquisição e o orçamento disponível para a execução da atividade.

Resumidamente, atender a estes elementos é responder à questãoQuanto custa?.

 

Considerações Finais

Com o aprendizado deste livro, vocês viram como funciona o processo de ideação e conheceram a ferramenta 5W2H, assim, exploraram novas ferramentas para serem capazes de alinhar os elementos necessários à construção do plano de ação da atividade de extensão de vocês.

Também, entenderam a importância de se ter organização para expor as ideias, costurando todos os elementos que as compõem, de modo que possam enxergar a construção do processo.

Agora, é chegada a hora de vocês colocarem em prática os aprendizados adquiridos até aqui, para partirmos para a nossa última etapa desta trilha extensionista.

Vamos estruturar uma atividade de extensão?

Referências Consultadas

CCC, 2020. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/2020/06/10/com-violencia-domestica-em-alta-na-pandemia-feminicidios-crescem-22-no-pais. Acesso em: 17 de novembro de 2020.

Embrapa, 2020. Disponível em: https://www.embrapa.br/visao/o-papel-da-ciencia-tecnologia-e-inovacao. Acessos em: 17 de novembro de 2020.

OPAS, 2020. Disponível em: https://www.paho.org/pt/covid19. Acesso em: 17 de novembro de 2020.

 

Ficha Técnica

Versão Original:

[ Conteúdo ]

Douglas Paulesky Juliani

Patrícia Deporte de Andrade

Rafael Rodrigues da Silva

Uda Flavia Cunha Souza Fialho

[ Design educacional ]

Maria da Glória Silva e Silva
Equipe Pedagógica do Cerfead

[ Desenho gráfico ]

Daniel Mazon da Silva
Equipe de Materiais Didáticos do Cerfead

[ Revisão textual ]

Vanessa Martinelli Oro (Revisão - versão 1)

Denise de Mesquita Corrêa (Revisão - versão atualizada)

Versão Adaptada:

[ Conteúdo ]

Mariana de Vasconcellos Dullius

Letícia Cunico

Liziane Renate Lessak

[ Revisão textual ] 

José Orlando Miranda Botelho